sábado, 18 de dezembro de 2010

6) Um conto diferente.

O relógio marcava exatamanente 13:00h da tarde, e eu ansioso, não via a hora de meu ônibus chegar ao interior de meus avós.

Mais uma vez voltava àquela cidade tão querida... Cidade onde crescí, onde corria descalço pelas ruas, onde jogava bola no campinho de terra, onde tomava banho nos rios... Porém, dessa vez eu não voltara pelo mesmo motivo de sempre... Havia algo mais, algo que me inquietava e me fazia querer descer do ônibus e correr mais rápido que ele, enfrentar aquela chuva que caía e a distância que ainda me separava dele. Sim, ele; a força que me movia naquele instante, algo até então desconhecido para mim que, aos 17 anos, experimentava pela primeira vez a densidade e a magia do primeiro amor.

desde o momento que o conhecera não haviam mais conflitos nem duvidas... seu sorriso trouxe consigo a verdade que eu precisava, o esclarecimento de que o amor jamais poderia ser pecado, jamais poderia ser errado.

minha ansiedade era tamanha que não podia controlar meus sorrisos... olhava para a chuva lá fora e sorria livremente, imaginando como seria nosso primeiro encontro de amor. haviamos marcado no pontilhão, uma ponte abandonada que dava acesso à serra do torreão, ponto turístico da pequena cidade de meus avós.

de repente o medo tomou conta de mim... e se eu não chegasse na hora marcada? e se ele achasse que eu naum iria e fosse embora?

comecei então a rezar, e a pedir a Deus que não me tirasse aquele momento.

finalmente o ônibus chegara e eu ja me encontrava em casa de meus avós, a chuva havia amainado e após todos os cumprimentos, troquei de roupa apressadamente e sai dizendo que precisava resolver algo urgente. precisava chegar la o mais rapido possivel!

ao chegar ao pontilhão, ao longe pude vê-lo... Deus, como estava lindo. meu coração saltou e após me receber com um sorriso ele disse: __que bom que você veio! vamos antes que a chuva recomece?

caminhando a seu lado parecia que nada mais existia, nem mesmo a chuva que recomeçara tinha importancia... estavamos molhados, mais o calor de nossos corações era suficiente para que nada fosse maior que aquele momento.

então, chegamos ao local marcado... Deus parecia mesmo estar abençoando aquele momento... a serra estava mais linda que nunca, o inverno chegara e a vegetação nos saudava com todo seu esplendor e beleza.

subimos mais um pouco a serra e quando tivemos certeza que ninguem poderia nos ver, sabiamos que havia chegado o momento.

ele se colocou à minha frente e eu pude olha-lo como jamais havia feito... seus olhos verdes brilhavam de ansiedade, seu queixo tremia de frio e seus cabelos molhados lhe davam um aspecto de moleque travesso.

ele pegou minhas mãos e chegou mais perto, sentia o calor que vinha dele... suas mãos tremiam ao segurar as minhas, e ao me abraçar, ele sorriu ao sentir minhas pernas bambas.

me abraçou com delicadeza e eu me acheguei a seu peito, descansei a cabeça em seu ombro e relaxei. então, chegou o momento... sem palavra sequer ficamos frente a frente, ele me olhou momentos antes de fecharmos os olhos e então aconteceu... nossas bocas se uniram em um beijo cândido e terno... sem pressa, sem violência, sem medo.

apenas sentimento.

naquele momento o tempo parou de passar, o vento já não soprava e a chuva simplesmente parou no meio do caminho entre os céus e a terra.

éramos apenas nós dois nos tornando um só.

éramos apenas amor, e naquele momento parecia não haver o depois... também não lembravamos se houvera um antes, e isso simplesmente já não importava.

nada aconteceu naquele dia após aquele beijo. não houve sexo, nem outro beijo.

nossas almas estavam satisfeitas e não era preciso mais nada.

descemos a serra alimentando nossos sonhos, acreditando na utopia de sermos felizes para sempre juntos... dois garotos que se tornavam homens...

depois que descemos a serra sentimos a chuva, e a tristeza das lágrimas do céu trouxe a certeza que o depois viria sombrio, como sombria é a vida dos iguais que amam diferente.

nos despedimos com um olhar e seguimos nossos rumos... mais algo ficou lá naquela serra, algo de uma força tão tremenda que nos segundos eternos de um beijo, fez o tempo parar de passar, a o vento parar de soprar e a chuva parar de cair.

Nenhum comentário:

Postar um comentário